Pages

A hora íntima

Postado por samantha , domingo, 6 de junho de 2010 19:01

Quem pagará o enterro e as flores
Se eu me morrer de amores?
Quem, dentre amigos, tão amigo
Para estar no caixão comigo?
Quem, em meio ao funeral
Dirá de mim: – Nunca fez mal...
Quem, bêbedo, chorará em voz alta
De não me ter trazido nada?
Quem virá despetalar pétalas
No meu túmulo de poeta?
Quem jogará timidamente
Na terra um grão de semente?
Quem elevará o olhar covarde
Até a estrela da tarde?
Quem me dirá palavras mágicas
Capazes de empalidecer o mármore?
Quem, oculta em véus escuros
Se crucificará nos muros?
Quem, macerada de desgosto
Sorrirá: – Rei morto, rei posto...
Quantas, debruçadas sobre o báratro
Sentirão as dores do parto?
Qual a que, branca de receio
Tocará o botão do seio?
Quem, louca, se jogará de bruços
A soluçar tantos soluços
Que há de despertar receios?
Quantos, os maxilares contraídos
O sangue a pulsar nas cicatrizes
Dirão: – Foi um doido amigo...
Quem, criança, olhando a terra
Ao ver movimentar-se um verme
Observará um ar de critério?
Quem, em circunstância oficial
Há de propor meu pedestal?
Quais os que, vindos da montanha
Terão circunspecção tamanha
Que eu hei de rir branco de cal?
Qual a que, o rosto sulcado de vento
Lançará um punhado de sal
Na minha cova de cimento?
Quem cantará canções de amigo
No dia do meu funeral?
Qual a que não estará presente
Por motivo circunstancial?
Quem cravará no seio duro
Uma lâmina enferrujada?
Quem, em seu verbo inconsútil
Há de orar: – Deus o tenha em sua guarda.
Qual o amigo que a sós consigo
Pensará: – Não há de ser nada...
Quem será a estranha figura
A um tronco de árvore encostada
Com um olhar frio e um ar de dúvida?
Quem se abraçará comigo
Que terá de ser arrancada?
Quem vai pagar o enterro e as flores
Se eu me morrer de amores?


Vinicius de Moraes
In: Antologia Poética

O mais-que-perfeito

Postado por samantha 18:40

Ah, quem me dera ir-me
Contigo agora
Para um horizonte firme
(Comum, embora...)
Ah, quem me dera ir-me!

Ah, quem me dera amar-te
Sem mais ciúmes
De alguém em algum lugar
Que não presumes...
Ah, quem me dera amar-te!

Ah, quem me dera ver-te
Sempre a meu lado
Sem precisar dizer-te
Jamais: cuidado...
Ah, quem me dera ver-te!

Ah, quem me dera ter-te
Como um lugar
Plantado num chão verde
Para eu morar-te
Morar-te até morrer-te...

Vinicius
Montevidéu, 01.11.1958
In: Para viver um grande amor (crônicas e poemas)

Postado por samantha , sábado, 29 de maio de 2010 08:44

nunca sei ao certo
se sou um menino de dúvidas
ou um homem de fé

certezas o vento leva
só dúvidas ficam de pé

leminski
In: O ex-extranho

Amor bastante

Postado por samantha 08:40

quando eu vi você
tive uma idéia brilhante
foi como se eu olhasse
de dentro de um diamante
e meu olho ganhasse
mil faces num só instante

basta um instante
e você tem amor bastante

leminski
In: La vie en close

Postado por samantha 08:39

sossegue coração
ainda não é agora
a confusão prossegue
sonhos afora

calma calma
logo mais a gente goza
perto do osso
a carne é mais gostosa

leminski
In: La vie en close

Postado por samantha , sexta-feira, 28 de maio de 2010 21:15

a noite
me pinga uma estrela no olho
e passa

leminski
In: Caprichos & Relaxos

Poeminha sentimental

Postado por samantha 21:05

O meu amor, o meu amor, Maria
É como um fio telegráfico da estrada
Aonde vêm pousar as andorinhas...
De vez em quando chega uma
E canta
(Não sei se as andorinhas cantam, mas vá lá!)
Canta e vai-se embora
Outra, nem isso,
Mal chega, vai-se embora.
A última que passou
Limitou-se a fazer cocô
No meu pobre fio de vida!
No entanto, Maria, o meu amor é sempre o mesmo:
As andorinhas é que mudam.

Mário Quintana
In: Preparativos de Viagem

Bilhete para Los Angeles

Postado por samantha 20:58

Tu, que te chamas Vinicius
De Moraes, inda que mais
Próprio fora que Imorais
Quem te conhece chamara –
Avis rara!

Tens uns olhos de menino
Doce, bonito e ladino
E és um calhordaço fino:
Só queres amor e ócio,
Capadócio!

Quando a viola ponteias
As damas cantando enleias
E as prendes em tuas teias –
Tanto mal que já fizeste,
Cafajeste!

Apesar do que, faz falta
Tua presença, que a malta
Do Rio pede em voz alta:
Deus te dê vida e saúde
Em Hollywood!

Rubem Braga
Rio, 1949
In: Livro de Versos (1980)

Do amoroso esquecimento

Postado por samantha 20:50

Eu agora - que desfecho!
Já nem penso mais em ti...
Mas será que nunca deixo
De lembrar que te esqueci?

Mário Quintana

Mensagem a Rubem Braga

Postado por samantha , domingo, 16 de maio de 2010 14:56

Os doces montes cônicos de feno
(Decassílabo solto num postal de Rubem Braga, da Itália.)


A meu amigo Rubem Braga
Digam que vou, que vamos bem: só não tenho é coragem de escrever
Mas digam-lhe. Digam-lhe que é Natal, que os sinos
Estão batendo, e estamos no Cavalão: o Menino vai nascer
Entre as lágrimas do tempo. Digam-lhe que os tempos estão duros
Falta água, falta carne, falta às vezes o ar: há uma angústia
Mas fora isso vai-se vivendo. Digam-lhe que é verão no Rio
E apesar de hoje estar chovendo, amanhã certamente o céu se abrirá de azul
Sobre as meninas de maiô. Digam-lhe que Cachoeiro continua no mapa
E há meninas de maiô, altas e baixas, louras e morochas
E mesmo negras, muito engraçadinhas. Digam-lhe, entretanto
Que a falta de dignidade é considerável, e as perspectivas pobres
Mas sempre há algumas, poucas. Tirante isso, vai tudo bem
No Vermelhinho. Digam-lhe que a menina da Caixa
Continua impassível, mas Caloca acha que ela está melhorando
Digam-lhe que o Ceschiatti continua tomando chope, e eu também Malgrado uma avitaminose B e o fígado ligeiramente inchado.
Digam-lhe que o tédio às vezes é mortal; respira-se com a mais extrema
Dificuldade; bate-se, e ninguém responde. Sem embargo
Digam-lhe que as mulheres continuam passando no alto de seus saltos, e a moda das saias curtas
E das mangas japonesas dão-lhes um novo interesse: ficam muito provocantes.
O diabo é de manhã, quando se sai para o trabalho, dá uma tristeza, a rotina: para a tarde melhora.
Oh, digam a ele, digam a ele, a meu amigo Rubem Braga
Correspondente de guerra, 250 FEB, atualmente em algum lugar da Itália
Que ainda há auroras apesar de tudo, e o esporro das cigarras
Na claridade matinal. Digam-lhe que o mar no Leblon
Porquanto se encontre eventualmente cocô boiando, devido aos despejos
Continua a lavar todos os males. Digam-lhe, aliás
Que há cocô boiando por aí tudo, mas que em não havendo marola
A gente se agüenta. Digam-lhe que escrevi uma carta terna
Contra os escritores mineiros: ele ia gostar. Digam-lhe
Que outro dia vi Elza-Simpatia-é-quase-Amor. Foi para os Estados Unidos
E riu muito de eu lhe dizer que ela ia fazer falta à paisagem carioca
Seu riso me deu vontade de beber: a tarde
Ficou tensa e luminosa. Digam-lhe que outro dia, na Rua Larga
Vi um menino em coma de fome (coma de fome soa esquisito, parece
Que havendo coma não devia haver fome: mas havia).
Mas em compensação estive depois com o Aníbal
Que embora não dê para alimentar ninguém, é um amigo. Digam-lhe que o Carlos
Drummond tem escrito ótimos poemas, mas eu larguei o Suplemento. Digam-lhe que está com cara de que vai haver muita miséria-de-fim-de-ano
Há, de um modo geral, uma acentuada tendência para se beber e uma ânsia
Nas pessoas de se estrafegarem. Digam-lhe que o Compadre está na insulina
Mas que a Comadre está linda. Digam-lhe que de quando em vez o Miranda passa
E ri com ar de astúcia. Digam-lhe, oh, não se esqueçam de dizer
A meu amigo Rubem Braga, que comi camarões no Antero
Ovas na Cabaça e vatapá na Furna, e que tomei plenty coquinho
Digam-lhe também que o Werneck prossegue enamorado, está no tempo
De caju e abacaxi, e nas ruas
Já se perfumam os jasmineiros. Digam-lhe que têm havido
Poucos crimes passionais em proporção ao grande número de paixões
À solta. Digam-lhe especialmente
Do azul da tarde carioca, recortado
Entre o Ministério da Educação e a ABI. Não creio que haja igual
Mesmo em Capri. Digam-lhe porém que muito o invejamos
Tati e eu, e as saudades são grandes, e eu seria muito feliz
De poder estar um pouco a seu lado, fardado de segundo-sargento. Oh
Digam a meu amigo Rubem Braga
Que às vezes me sinto calhorda mas reajo, tenho tido meus maus momentos
Mas reajo. Digam-lhe que continuo aquele modesto lutador
Porém batata. Que estou perfeitamente esclarecido
E é bem capaz de nos revermos na Europa. Digam-lhe, discretamente,
Que isso seria uma alegria boa demais: que se ele
Não mandar buscar Zorinha e Roberto antes, que certamente
Os levaremos conosco, que quero muito
Vê-lo em Paris, em Roma, em Bucareste. Digam, oh digam
A meu amigo Rubem Braga que é pena estar chovendo aqui
Neste dia tão cheio de memórias. Mas
Que beberemos à sua saúde, e ele há de estar entre nós
O bravo Capitão Braga, seguramente o maior cronista do Brasil
Grave em seu gorro de campanha, suas sobrancelhas e seu bigode circunflexos
Terno em seus olhos de pescador de fundo
Feroz em seu focinho de lobo solitário
Delicado em suas mãos e no seu modo de falar ao telefone
E brindaremos à sua figura, à sua poesia única, à sua revolta, e ao seu cavalheirismo
Para que lá, entre as velhas paredes renascentes e os doces montes cônicos de feno
Lá onde a cobra está fumando o seu moderado cigarro brasileiro
Ele seja feliz também, e forte, e se lembre com saudades
Do Rio, de nós todos e ai! de mim.


Vinicius
in Antologia Poética
in Poesia completa e prosa: "O encontro do cotidiano"

Postado por samantha 07:43

aves
de ramo
em ramo

meu pensamento
de rima
em rima
erra

até uma
que diz
te amo

leminski
do livro "Caprichos & Relaxos"

Postado por samantha 07:35

apagar-me
diluir-me
desmanchar-me
até que depois
de mim
de nós
de tudo
não reste mais
que o charme

leminski
do livro "Caprichos & Relaxos" (1983)

Postado por samantha 07:24

O amor é quando a gente mora um no outro.

Mario Quintana

O impossível carinho

Postado por samantha 07:22

Escuta, eu não quero contar-te o meu desejo
Quero apenas contar-te a minha ternura
Ah se em troca de tanta felicidade que me dás
Eu te pudesse repor
- Eu soubesse repor -
No coração despedaçado
As mais puras alegrias de tua infância!

Manuel Bandeira

Poeminho do contra

Postado por samantha 07:19

Todos estes que aí estão
Atravancando o meu caminho,
Eles passarão.
Eu passarinho!

Mario Quintana

Tarde

Postado por samantha 07:13

Na hora dolorosa e roxa das emoções silenciosas
Meu espírito te sentiu.
Ele te sentiu imensamente triste
Imensamente sem Deus
Na tragédia da carne desfeita.

Ele te quis, hora sem tempo
Porque tu eras a sua imagem, sem Deus e sem tempo.
Ele te amou
E te plasmou na visão da manhã e do dia
Na visão de todas as horas
Ó hora dolorosa e roxa das emoções silenciosas.

Vinicius
Rio de Janeiro, 1933
in O caminho para a distância
in Poesia completa e prosa: "O sentimento do sublime"

Felicidade

Postado por samantha 06:42

Se eu lhe dissesse tudo o que sentisse,
- tudo o que o coração sente mas não diz - ,
e se você sentisse tudo o que eu dissesse,
que me faltaria, que lhe faltaria para ser feliz?

Newton Braga

Desejos

Postado por samantha , sábado, 15 de maio de 2010 20:54

Desejo a você
Fruto do mato
Cheiro de jardim
Namoro no portão
Domingo sem chuva
Segunda sem mau humor
Sábado com seu amor
Filme do Carlitos
Chope com amigos
Crônica de Rubem Braga
Viver sem inimigos
Filme antigo na TV
Ter uma pessoa especial
E que ela goste de você
Música de Tom com letra de Chico
Frango caipira em pensão do interior
Ouvir uma palavra amável
Ter uma surpresa agradável
Ver a Banda passar
Noite de lua cheia
Rever uma velha amizade
Ter fé em Deus
Não ter que ouvir a palavra não
Nem nunca, nem jamais e adeus.
Rir como criança
Ouvir canto de passarinho
Sarar de resfriado
Escrever um poema de Amor
Que nunca será rasgado
Formar um par ideal
Tomar banho de cachoeira
Pegar um bronzeado legal
Aprender uma nova canção
Esperar alguém na estação
Queijo com goiabada
Pôr-do-Sol na praia
Uma festa
Um violão
Uma seresta
Recordar um amor antigo
Ter um ombro sempre amigo
Bater palmas
De alegria
Uma tarde amena
Calçar um velho chinelo
Sentar numa velha poltrona
Tocar violão para alguém
Ouvir a chuva no telhado
Vinho branco
Bolero de Ravel...
E muito carinho meu.

Drummond

Postado por samantha 20:37

Reparta nosso prazer
e reserve minha parte.
Que, eu, parti; por dever!

Desejei - em vão - segurar-te
na minha cama por outras noites
mas, ao meu lado, vãos...
ocupavam todas as partes.

Dullo
RJ, 08/03/2010.

Postado por samantha 08:42

vão é tudo
que não for prazer
repartido prazer
entre parceiros

vãs
todas as coisas que vão

leminski
do livro "Polonaises" (1980)

Seminário Acadêmico Internacional Jorge Amado

Postado por samantha 04:50

Sexta Itinerante

Postado por samantha , sexta-feira, 23 de abril de 2010 11:26

Race coloniality debate in translation:
culture and words in the red, black, and white Atlantic.
Ella Habiba Shohat (New York University)
Robert Stam (New York University)

Prédio central da ECA/ USP
Sala 204
27/04/10 - terça-feira
14h

A intenção desta aula é refletir sobre como se articulam as comparações sobre os imaginários nacionais sobre raça e colonialismo na França, Brasil e Estados Unidos.

Ella Shohat e Robert Stam são autores de Crítica da Imagem Eurocêntrica, Multiculturalismo Tropical: uma História Comparativa da Raça na Cultura e Taboo Memories, Diasporic Voices dentre outros títulos.

Fonte: http://sextadomes.blogspot.com/

Etnografias: reflexões sobre o trabalho de antropólogos

Postado por samantha , quarta-feira, 3 de março de 2010 15:47

Moacir Palmeira - Museu Nacional/UFRJ

Palestra de abertura das atividades acadêmicas do PPGAS/USP em 2010

Data: 9 de março de 2010 - 15h00

Local: Prédio de Filosofia e Ciências Sociais - Sala 8


Fonte:
http://www.fflch.usp.br/da/index.php/secretaria/eventos/325-etnografias-reflexoes-sobre-o-trabalho-de-antropologos

Quando o campo é o arquivo

Postado por samantha , sábado, 6 de fevereiro de 2010 18:29

Pois bem, esta que vos escreve finalmente cumpriu todos os 48 créditos necessários para a qualificação e para o depósito da dissertação e agora pode, enfim, se dedicar a sua pesquisa. Ufa!

Ufa?!

Mas como é mesmo que se trabalha com arquivo? Como dar conta da massa de documentos? Como saber recortar de maneira heurística o objeto?

Questões metodológicas assolam as reflexões dessa aspirante à antropóloga...

Alteridade?

Postado por samantha , quarta-feira, 27 de janeiro de 2010 04:36





Fonte: http://rafaelsica.zip.net

O quadrinho (nada) ordinário de Rafael Sica

Postado por samantha , sexta-feira, 15 de janeiro de 2010 18:15



Por: Julio Daio Borges

Apesar de ter tido passagens pela Folha de S. Paulo, de 2003 a 2006, e de ter publicado na breve revista F e no fanzine Tarja Preta, Rafael Sica parece que sobressaiu, recentemente, na Piauí, ornando alguns dos textos mais bem escritos do que restou do nosso jornalismo. Embora ele mesmo não acredite no embrulha-peixe: “Não conto com carreira em jornal. Isso não existe mais”; e sobre a inesgotável competição entre papel e Web, pontue sem medo de arrependimento: “A internet tem repercussão maior que jornal”. Com menos de 30 anos, Sica é apontado como o mais influente quadrinista da nova geração. Já ganhou exposição em Porto Alegre (ele é de Pelotas/RS) e se prepara para lançar o primeiro livro, pela nova editora Barba Negra, uma dissidência da Desiderata (que ressuscitou, entre capas, o velho Pasquim). Sua produção pode ser conferida, amplamente, no blog Quadrinho Ordinário, que mantém atualizado desde 2007. Descende, claro, de Crumb e do grupo que fundou a revista Chiclete com Banana, nos anos 80, mas, além da acidez, do inconformismo e da veia cínica, que caracterizam toda a turma de Sica, ele reserva, para si, um lado de artista. Apesar do clima de fim de mundo (sempre tragicômico), da desilusão e, muitas vezes, da falta de saída, paira, de repente, um certo lirismo, uma epifania, e até uma certa poesia. Desenhar bem, todos desenham; passar a mensagem, todos passam – mas Sica faz arte; e isso nem todos conseguem fazer... Se a chamada Web 2.0 revelou Hugh MacLeod – seu maior tradutor em forma de rabiscos –, esperamos que a internet brasileira consagre Rafael Sica, permitindo-o viver dignamente de seu trabalho, afinal talentos como o dele não florescem todos os dias.


Blog de Rafael Sica:
http://rafaelsica.zip.net

Fonte do texto: http://www.digestivocultural.com/arquivo/nota.asp?codigo=1515

Primado do objeto

Postado por samantha 05:33

"Schwarz evita a batalha de bibliografias, sem entretanto cair no ecletismo, pois se aferra ao objeto e suas contradições. A atenção aos problemas implica a recusa ao método e, no caso da crítica, respeito pela singularidade do objeto, a obra artística em questão, que não pode ser tratada como mero exemplo de teses já definidas ou como ilustração da aplicabilidade de categorias gerais. O reconhecimento do primado do objeto impõe a diferença específica da obra de Schwarz em relação à de outros que pretendem 'aplicar' Adorno, Benjamin, Brecht ou Lukács, e mesmo Candido, perdendo assim de vista justamente aquilo que nos objetos contradiz e nega, de modo produtivo, as categorias dispostas previamente para a análise. Quando esse 'primado do objeto', na obra de Schwarz, é levado às últimas consequências, acaba colocando em questão, por uma especificidade adicional decorrente de sua inserção na 'periferia do capitalismo', até mesmo alguns pressupostos da teoria crítica. Pois a recepção dessa tradição contraditória foi 'preparada', como diz Schwarz, pelo trabalho de Antonio Candido: isso foi fundamental, contribuindo até mesmo para a crítica do 'frankfurtianismo' como método acadêmico. (...) A crítica imanente, como diz Adorno, exige o conhecimento que vai além do objeto, através do objeto, ou seja, encontra a marca da sociedade como princípio estruturante e expressivo, não como mero tema ou escolha formal. A relação entre arte e sociedade nos ensaios de Schwarz não se pauta pela análise sociológica nem se limita ao comentário erudito, mas busca o desafio de pensar, a cada obra específica, o sentido da mediação. O que interessa não é apenas a idéia (quase banal, embora já uma heresia) de que as obras iluminam e se deixam iluminar pela realidade histórica, mas sim o fato de que o material configurado na obra (lembrando que o conceito de 'material' engloba até mesmo o repertório de formas dadas em determinada época) é ele mesmo histórico, e assim participa desde o início do processo social. (...) Nesse sentido, a opção pela leitura materialistanão tem nada de arbitrário, é sempre fundada no próprio texto, não em convicções externas. Os 'pressupostos' da crítica literária de Schwarz não incluem a necessidade de comentar o mundo, para depois verificar como as contradições do porcesso social se inserem na obra. Muito pelo contrário, é o mundo que frequentemente não está à altura de sua imagem nas obras, e nesse momento a ideiologia é desmascarada, menos como farsa do que como tragédia. A obra literária, que dá forma ao conteúdo histórico, acaba por reconfigurar a experiência social ali presente".


ALMEIDA, Jorge de. "Pressupostos, salvo engano, dos pressupostos, salvo engano". In: CEVASCO, M. & OHATA, M. (Orgs.) Um crítico na periferia do capitalismo: reflexões sobre a obra de Roberto Schwarz. São Paulo: Cia das Letras, 2007.

"O Brasil não é para principiantes"

Postado por samantha , quinta-feira, 14 de janeiro de 2010 16:54

" (...) a necessidade de novas obras, que contemplem mais autores e interpretações, indica a recorrência e a vitalidade com que a sociedade brasileira vem sendo continuamente pensada e levada a se repensar através dos seus intérpretes clássicos. Talvez isso ocorra, em parte, justamente porque, em meio ao labirinto da especialização acadêmica contemporânea e do decorrente fracionamento do conhecimento que não apenas separou a história da lógica das ciências sociais, mas implicou também o abandono das visadas mais gerais sobre a sociedade, as interpretações do Brasil, acadêmicas ou não, constituam um espaço social de comunicação entre presente, passado e futuro que pode nos dar uma visão mais integrada e consistente da dimensão de processo que o nosso presente ainda oculta".

BOTELHO, André & SCHWARCZ, Lilia. "Esse enigma chamado Brasil: apresentação". In: Um enigma chamado Brasil: 29 intérpretes e um país. São Paulo: Cia das Letras, 2009.

Ponto final

Postado por samantha , quarta-feira, 13 de janeiro de 2010 09:21

"Nos últimos meses, aflito diante da minha demora para finalizá-la, propôs a seguinte solução: 'mãe, porque você não escreve assim: concluí que o Antonio Candido e os outros eram intelectuais, ponto final, e entrega a tese'".

PONTES, Heloísa. Destinos Mistos: o grupo Clima no sistema cultural paulista (1940-1968). Tese de doutoramento. São Paulo, Departamento de Sociologia da USP, 1996.

Orientalismo 2

Postado por samantha , sábado, 9 de janeiro de 2010 13:03

"Com demasiada frequência, supõe-se que a literatura e a cultura são, política e até historicamente, inocentes; para mim, as coisas parecem diferentes, e certamente o meu estudo do orientalismo convenceu-me (e espero que convença os meus colegas literários) de que a sociedade e a cultura literária só podem ser entendidas e estudadas juntas".

SAID, Edward. In: Orientalismo: o Oriente como invenção do Ocidente. São Paulo: Cia das Letras, 2007.

Orientalismo

Postado por samantha , sexta-feira, 8 de janeiro de 2010 16:17


"Em antropologia, há certos problemas para os quais não há Said(a)".

SAHLINS, Marshall. In: Esperando Foucault, ainda. São Paulo: Cosac & Naify, 2004.

19 Princípios para a Crítica Literária

Postado por samantha , quinta-feira, 7 de janeiro de 2010 13:34

1. Acusar os críticos de mais de 40 anos de impressionismo, os de esquerda de sociologismo, os minuciosos de formalismo, e reclamar para si uma posição de equilíbrio.

2. Citar em alemão os livros lidos em francês, em francês os espanhóis, e nos dois casos fora de contexto.

3. Começar sempre por uma declaração de método e pela desqualificação das demais posições. Em seguida praticar o método habitual (o infuso).

4. Nunca apresentar a vida do autor sem antes atacar o método biográfico. Vários acertos podem ser compensados por uma redação horrível.

5. Não esqueça: o marxismo é um reducionismo, e está superado pelo estruturalismo, pela fenomenologia, pela estilística, pela nova crítica americana, pelo formalismo russo, pela crítica estética, pela lingüística e pela filosofia das formas simbólicas.

6. Citar muito e nunca a propósito. Uma bibliografia extensa é capital. Apóie a sua tese na autoridade dos especialistas, de preferência incompatíveis entre si.

7. A argumentação deve ser técnica, sem relação com as conclusões.

8. Não esqueça: o marxismo é um reducionismo, e está superado pelo estruturalismo, pela fenomenologia, pela estilística, pela nova crítica americana, pelo formalismo russo, pela crítica estética, pela lingüística e pela filosofia das formas simbólicas.

9. Resolva sempre sem entrar no mérito da questão.

10. Para as questões de ontologia, Wellek; para as de forma Kayser, e ultimamente Todorov.

11. A psicanálise está menos superada que o marxismo, mas também é muito unilateral.

12. Não esqueça: o marxismo é um reducionismo, e está superado pelo estruturalismo,
pela fenomenologia, pela estilística, pela nova crítica americana, pelo formalismo russo, pela crítica estética, pela lingüística e pela filosofia das formas simbólicas.

13. Afrânio Coutinho e os Concretistas introduziram a crítica científica no Brasil.

14. Publique longos resumos de livros sem importância, convença o editor a traduzi-los e o leitor a lê-los. Há quase 700.000 universitários no país.

15. Um doutoramento vale ouro.

16. O semantema glúteo em lingüística moderna tende à polissemia.

17. A crítica de nosso tempo é engajada e autêntica, e não descura de sua vocação profunda, de seu compromisso com o homem no que ele tem de eterno e no que tem de circunstancial, compromisso que irá cumprir resolutamente até o fim. Isto é que é importante.

18. Os livros editados pela Universidade de Indiana e importados pela livraria Pioneira são importantíssimos. Se pelo contrário você é de formação francesa, não deixe de aplicar o método de Chomsky e Propp. O resultado não se fará esperar.

19. Muito Cuidado com o óbvio. O mais seguro é documentá-lo sempre estatisticamente! Use um gráfico se houver espaço.

SCHWARZ, Roberto. In: O Pai de família e outros estudos. São Paulo: Paz e Terra, 1970.

Encontro Nacional de Antropologia e Performance

Postado por samantha , segunda-feira, 4 de janeiro de 2010 16:02

O Encontro Nacional de Antropologia e Performance [ENAP], que terá por sede o Museu de Arte Contemporânea da Universidade de São Paulo [MAC - USP], pretende reunir pesquisadores do campo das artes interessados em aprofundar seu diálogo com a antropologia e antropólogos que buscam conhecimentos em estudos de performance, num processo interdisciplinar que evoca um momento originário na história da antropologia da performance, nos anos de 1960 e 1970, quando Richard Schechner, um diretor de teatro virando antropólogo, faz a sua aprendizagem antropológica com Victor Turner, um antropólogo que, na sua relação com Schechner, torna-se aprendiz do teatro.

As atividades previstas pelo Encontro, abertas ao público, estarão divididas em sessões de mesas redondas, conferências, ações performáticas [com a participação de convidados nacionais e internacionais] e apresentações de trabalhos [comunicações orais ou pôsteres], organizadas em torno de 3 eixos temáticos: festa e patrimônio artes do espetáculo música e oralidade.
Aos interessados em apresentar trabalhos [comunicações orais ou postêres], o prazo para envio dos resumos é 10/01/2010 [mais informações no site linkado abaixo].

O Encontro é uma realização do Napedra Núcleo de Antropologia, Performance e Drama – grupo de estudo e pesquisa que reúne, entre outros, alunos e professores do Programa de Pós-gradução em Antropologia Social [FFLCH-USP] e do Programa de Pós-graduação em Artes [IA-UNICAMP] - fazendo parte das ações propostas pelo projeto temático Antropologia da Performance: Drama, Estética e Ritual, financiado desde 2008 pela Fundação de Amparo a Pesquisa do Estado de São Paulo [Fapesp].

O ENAP conta com o apoio da Rede Goiana de Pesquisa Performances Culturais [UFC UCG IHGG], do Programa de Pós-graduação Interunidades de Estética e História da Arte [USP], do Museu de Arte Contemporânea [MAC-USP, do Programa de Pós-graduação em Artes [IA-UNICAMP] e do Departamento de Antropologia, Programa de pós-graduação em Antropologia Social [FFLCH-USP].

Fonte: http://www.fflch.usp.br/da/index.php/nucleos/napedra/272-enap-encontro-nacional-de-antropologia-e-performance

Revista Cadernos de Campo abre chamada para publicação

Postado por samantha , domingo, 3 de janeiro de 2010 06:49

A revista abre chamada de 04 de janeiro a 07 de março de 2010 para receber artigos, ensaios, resenhas, informes, entrevistas, traduções e produções estéticas, conforme suas instruções para publicação (link disponível em "Localize" no blog da revista).

Os trabalhos devem ser apresentados em três vias impressas, acompanhadas de uma cópia em mídia eletrônica enviada para o e-mail cadcampo@usp.br ou gravada em CD-ROM.

Além das instruções, confira os procedimentos de avaliação das colaborações (link disponível em "Localize" no blog da revista).

Abaixo, o endereço para envio das contribuições:

Revista Cadernos de Campo
Departamento de Antropologia - FFLCH/USP
Av. Prof. Luciano Gualberto, 315
São Paulo/SP - Brasil
CEP: 05508-900

Fonte: http://revistacadernosdecampo.blogspot.com/